quinta-feira, junho 16, 2005

Os putos, os putos...

«Os putos

Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.

Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.

As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo

Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.»
(José Carlos Ary dos Santos)

Ando com esta canção na cabeça que se mistura com o "avante camarada".
«Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós! »

Para mim faz sentido, embora fique com a sensação que o futuro da minha filha, agora com 12 anos, será bem pior que o meu (ou não!).
Dizem que a população está a envelhecer e até nos aconselham a ter mais filhos.
Por acaso se não fosse trágico era cómico, porque não vejo os ricos a terem muitos filhos.
A malta que ganha para a bucha, como eu, vê-se grega para que não falte nada aos poucos filhos que conseguimos ter.
Onde é que nascem mais crianças?
Pois está claro que é nas famílias (ou não), menos remediadas e com mais dificuldades.
Uma das grandes hipocrisias, que não papo nem com cobertura de chocolate, é a tal cena da igreja católica ser contra o preservativo, a pílula, o aborto e mais uns adubos e depois não fazer nada para acabar com a fome que existe no Mundo.
Na teoria desses oportunistas do espírito, os pobres são todos católicos, porque para "coiso-coiso" vai sem preservativo, vai sem pílula, vai com o que têem à mão, a boa vontade!
Abortarem em caso de deslize?
Não faz muito sentido, porque precisam de dinheiro para o fazer, para não dizer que não é muito católico.
Nestas famílias (ou não) onde come um, comem dois, comem três, comem quatro, ou passam todos fome, não faz muita diferença.

Pensando nos mais novos, vejo-me obrigada a deduzir que o Estado exige deles e de quem os põe no Mundo, mas nada lhes dá em troca.
Quando nascem têem eles afecto, conforto, comida, roupas e brinquedos?
Pois...
Quando crescem e são obrigados a ir à Escola têem eles vontade, condições, livros e materiais?
Pois...
Quando crescem mais um bocado e chegam à adolescência têem eles o que aparentemente têem os outros adolescentes?
Pois...
Provavelmente nem vislumbram ter oportunidades para o conseguir a não ser que enganem, roubem e isso.

Neste culto económico em que vivemos, o dinheiro é a droga mais perigosa que existe.
Só não vê quem não quer!
Não fico nada admirada com tudo o que passa em termos de bandos, gangs e seitas de qualquer estilo, mesmo porque o pior gang de todos são os políticos, mas esses arranjaram maneira de andarem aparentemente legais.
Todos os outros nascem e são fruto do desvario económico em que caímos e onde ninguém se preocupa com ninguém a não ser que ganhe alguma coisa com isso, como por exemplo obrigar os miúdos a estudar, apenas e só para combater o analfabetismo.
Não?
Então para que servem 40.000 “doutores e assim” que se formaram na última década?
Servem para os mais novos verem que também não é por aí que passa o futuro.
Por falar em futuro e estando nós cada vez mais divididos, para já este passará por este tipo de “organizações” e as gerações futuras vivem ao som do “salve-se quem puder” e o melhor é unirem-se na desgraça presente.
"Avante camaradas" faz todo o sentido e eles aí estão dispostos a fazer estragos...
De quem é a culpa?
De todos!

Só tenho pena que não façam uma limpeza na Assembleia da República...