domingo, julho 23, 2006

Feira, fado e folclore...

A feira era artesanal, como as do tempo em que eu era criança.
Uns paus, uns ferros, umas lonas e já está.
Sons, cheiros e os foguetes a mais...

Houve zona de baile que não vimos, as sardinhas foram acompanhadas de fado e na disgestão o folclore.
Fado: aprendi a gostar por volta dos 20, oiço e sinto (ou não) e nunca me deu para chorar, só para arrepiar na hora, no momento, com a voz, com o sentir.
Folclore: até aos 6 anos, dei os primeiros passos no folclore. O nosso folclore é muito energético (e muito sexual), mas para a maioria, não parece nada bem assumir que aquilo mexe e remexe com o corpo e com a mente.

Os fados mal ouvi, mas o bocado de folclore que vi (rancho da areia branca) deu para viajar no tempo até aos 16 anos da minha vida, em que Agosto foi o mês em que eu me apalermei toda (para não dizer que me perdi toda e adorei) com tanta festa e com tanta coisa boa ao alcance de uma simples boleia dos primos da minha mãe.
O meu avô era um minhoto espectacular, era o único avô que eu tinha, mas não era por isso, era porque ele era muito à frente da época dele, muito aceso, muito malandro, muito risonho, muito gozão, muito divertido e um excelente "desconversador".
Tinha dias que eu chegava a casa dele (no Minho) lá para as 10 da manhã e ainda me sentava com ele e lhe contava dos gajos e lhe explicava porque é que ainda trazia a música no corpo.
Depois eu ia dormir até ao anoitecer, tomava e pequeno-almoço à hora do jantar e toca a andar para mais bailes, arraiais e até para a discoteca de viana do castelo.
Os primos da minha mãe (os meus passaportes de acesso a todo aquele paraíso) eram 2 irmãos todos malucos, quase trintões, solteirões e foliões, que se divertiam bué com a pedalada que a filha da prima (a pita, traduzido para o "agora") tinha com 15-16-17 anos, toda maluca e disposta a aproveitar todos os segundos de liberdade (graças ao meu avô que tomava conta de mim nas férias) e que ainda fazia rir o pai deles (tio da minha mãe e irmão do meu avô) por volta das 7 da manhã quando ele nos ia descobrir (aos 3) na cozinha da casa dele a rir e a mamar chouriço, presunto, malgas de tinto, ou cerveja fresquinha.
Eles levavam-me para todo o lado e o meu avô apoiava todas as minhas aventuras, desde que aqueles dois malucos tomassem conta de mim.
Um dia enganei-os e em vez de ir petiscar com eles antes de ir dormir, voltei a pé para perto do sítio da festa (que ainda era longe mas, do longe se faz perto) e fui-me encontrar com o vocalista da banda que me dedicou músicas a noite toda.
Muito o meu avô se riu, porque a ele contei-lhe...
(Sou muito lamechas e só digo isto, porque não é das coisas que saltam à vista, mas sou, lá isso sou.)

O meu avô morreu tinha eu 19 anos e não consegui vê-lo deitado e acabado, porque foi a única pessoa da minha família que foi meu cúmplice na adolescência, que nunca me criticou mas que, sempre me alertou para os riscos das aventuras "desenfreadas".
Voltando ao folclore, às feiras e às festas, muito eu dancei...
... de tudo, naqueles anos.

Velhos tempos que hoje recordei e mais umas memórias que ganhei para mais tarde recordar...
... é a vida!
:)