terça-feira, fevereiro 28, 2006

Maternidade de Oeiras, 27 de Fevereiro de 1993

De manhã levei na cabeça.
Eu estava sem horas, ou melhor, não tinha horários.
Se ela acordava, eu dedicava-me a descobrir o que tinha a fazer, se ela dormia eu ficava a olhar para ela e pouco mais tinha para fazer, a não ser pensar.
Ela acordou, mamou, mudei-lhe a fralda e adormeceu.
Fui tomar banho, porque andava uma a limpar o quarto e garantiu-me que me avisava se ela acordasse.
E lá fui dar banho à foca, para o 1º banho sem barriga, depois do parto.
Até que me soube bem, embora a barrigona me fizesse falta.
Quando cheguei ao quarto, um festival...
A Maternidade tinha horários para ensinar as mães a limparem os filhos, sem lhes dar banho e como estava na hora acordaram a minha bébé.
Ora eu de toalha na cabeça, de pijama e de roupão fui apanhada de surpresa, n'é?
- Onde é que foi? (Duh!!) Acabe-se lá de arranjar que está na hora do banho.
Atirei com a "tralha" para cima da cama e aproximei-me do local da "demonstração".
A minha bébé (a única que estava na Maternidade) não estava a gostar nada da brincadeira, não berrava que nem uma desalmada (havia de ser comigo!), mas estava incomodada, se calhar com o blábláblá que a outra iniciou sobre o despir, passar dum lado, os cuidados com o umbigo (um nojo aquilo, mas ainda o tenho!) e limpa daqui e dali com a água assim e assado, com a temperatura assim, misturada com o líquido assado.
Aproveitei a pausa na respiração para a interromper:
- Quando for para casa, também a acordo para lhe dar banho?
Olhou para mim como se eu fosse um insecto. Afinal eu ainda não tinha dito nada, já que tinha ficado de boca aberta e para falar é preciso abri-la e fechá-la, certo?
Respondeu-me assim:
- Quando for para casa escolhe um horário de manhã ou à noite para lhe dar banho.
- Mas tem que ser sempre à mesma hora?, insisti eu.
Eu sabia que ela não tinha a certeza se eu era mesmo estúpida, ou se estava só distraída.
- Claro que não tem que ser sempre à mesma hora, aproveita quando ela acordar e antes de lhe dar de mamar, trata disso.
- Ahhhhhhhhh! É que eu fui tomar banho, porque ela tinha acabado de mamar e adormeceu e até agora ainda não percebi porque é que a acordaram!, lancei eu.
- Porque estava na hora de dar banho aos bébés.
- Ahhhhhhhhh! Então não esperam que eles acordem... tem alguma maneira de lhes fazer isso enquanto dormem?, perguntei eu, já sem esconder a irritação.
Aqui ela percebeu que eu não estava armada em estúpida e como eu já tinha percebido tudo, bazou.
A outra da limpeza veio e "contou-me" que, não a tinham deixado ir avisar-me do que iam fazer e eu desatei num blábláblá que só serve para deitar tudo cá para fora, mas reclamei com a outra de serviço (conheci um monte delas em 5 dias que lá passei) e só me acalmei com a conversa, quando entrou outra para parir.
De tarde, durante as visitas ela ficava comigo no quarto, mas eu quase que não deixei ninguém mexer-lhe.
(Eheheheheheh!)
Chegou a noite e a outra veio para o quarto.
Eu já sabia o que se ia seguir, porque mudavam as figurantes de serviço, mas as regras eram as mesmas. Em 24 horas percebe-se bem isso.
A minha estava no quarto comigo, mas a dela, não...
Mas, pronto eu respeitei o espaço dela, porque ela também devia estar emocionalmente a precisar de espaço e ainda não tinhamos falado muito...
(Eheheheheheh!)
Depois das visitas, lá veio a que entrou de serviço às 24 horas para levar as bébés para o berçario, para nós dormirmos sossegadas e mesmo quando eu disse que a minha ficava, a estúpida disse que se ela ficasse a outra mãe não ia dormir.
Ok, pensei eu, já vamos ver isso...
Claro que a outra queria tudo, menos dormir sossegada.
Já não me lembro o que é que ela tinha, que eu ofereci-me para ir chamar a "enfermeirona".
Fui apanhá-la a dormir num sofá duma sala toda contente.
Acordei-a com um:
- Então está a dormir? Levante-se lá e vá ao quarto, porque a outra mãe precisa de si!
E esperei que ela se levantasse, estremunhada e quando ela entrou no quarto, eu fui ao berçário. Dormiam as duas. A "outra" era uma Jessica.
Dali a um bocado a enfermeirona, veio ter comigo para me dizer que eu não podia estar ali.
Saí de fininho, sem lhe dizer nada, mas quando estava quase a entrar para o quarto, perguntei-lhe:
- Isso de não poder estar no berçário está escrito no mesmo sítio, em que está escrito que pode dormir durante o serviço?
Como não respondeu, virei-lhe as costas e fui descansar a outra que não sabia como a filha estava.
E conversámos e dali a mais um bocado, decidi ir ver se a enfermeira estava a dormir, outra vez.
A outra não queria acreditar que estava.
- Levanta-te e anda ver!
Ela estava cheia de medo, mas aquilo para mim estava a ser uma aventura...
E lá estava ela a ressonar no sofá, para quem quisesse acreditar, vendo. Não acordou comigo a rir e levei a outra para o berçário. Caraças! Estavam a chorar!!
Eu agarrei logo no berço da minha para a levar, mas a outra continuava com medo de levar a dela. Eu só lhe disse:
- Faz o que achares melhor, que ralhar contigo, ninguém vai ralhar, porque eu chibo-me logo, da outra que está a dormir.
A Maternidade era minha...
(Eheheheheheh!)
E assim foi, viemos com as bébés para o quarto, cuidamos delas e continuamos sossegadas até que a enfermeirona entrou a dizer que as bébés deviam estar no beçário.
Só lhe disse:
- Vá lá dormir descansada que, nós se precisarmos de si, eu vou lá e acordo-a!
Para onde foi não sei, nunca mais a vi, mas sei que ainda dormimos e tudo...


Ontem, já com 13 anos, a minha filha pôs a mesa e ajudou a levantá-la.
Só a começou a levantar, porque eu mesmo a falar ao telefone, comecei primeiro...
Meti a loiça na máquina e arrumei mais umas coisas, sempre a alternar as orelhas e quando desliguei cheguei à sala e fiquei admirada!
A mesa ainda estava aberta, as cadeiras desarrumadas e aí percebi o quanto a minha filha devia estar cansada da festa...
Como é que eu não pensei nisso antes?
Ela estava (e ainda está!) cansada!!!!
'Tadinha...
E eu aqui a pensar que ela não quer é fazer nada!
It is injust, it is...