sábado, outubro 02, 2004

Quem sou eu?

Eu quero brincar, sorrir e rir o máximo de vezes possíveis durante o dia!
Como sempre ando a "remar contra a maré"...
Este é o padrão da minha vida.
Sou diferente e não me identifico com ninguém.
Ando calma e neste momento acho que sou a pessoa mais calma deste mundo...
Motivos?
Não os tenho e pela lógica (da batata) devia andar, quem sabe deprimida.
Mas simplesmente não me apetece...
Nestes últimos anos tive demasiadas lições de vida e não me vou deixar "levar pela maré", só porque o mundo está louco e as pessoas vivem essa loucura como se tivesse que ser mesmo assim.
Continuo a defender com unhas e dentes, a minha velha teoria de me manter bem comigo própria.
Uma das coisas que tenho feito é deixar-me estar sossegada e não mexer com as pessoas, já que as pessoas parecem "bombas-relógio", prontas a explodir ou a descarregar com quem lhes aparecer à frente.
Ando atenta ao que me rodeia, apesar de andar fechada na minha conchinha.
Para mim, tudo é bom para brincar e assim entretenho-me mais ou menos sòzinha...
Qualquer notícia, por exemplo, por mais macabra que seja, dá direito a uma piada.
Mas tenho que ter cuidado, muito cuidado, ou posso magoar alguém e isso sim, chateia-me...
Qualquer pessoa que me conheça bem, ri-se das minhas piadas absurdas, mas todas as outras pessoas podem levar a mal, uma brincadeira minha.
Isto só é normal, porque a maioria anda sensível e de certa maneira andam chateados com a vida, seja de que forma for.
Família, trabalho, doenças, etc... significam responsabilidade e uma pessoa responsável não deve brincar.
Quantas vezes não me disseram na minha tromba que, eu era uma brincalhona e que não levava nada a sério?
Ao princípio chateava-me, mas se hoje me disserem isso eu acho que me estão a elogiar...
Infelizmente, o meu sentido de humor não anda lá muito famoso e preciso de ver telejornais e merdas assim para me rir.
Quando começaram as notícias daquela menina, a Joana, eu fiquei revoltada.
E de que me servia a revolta se não tinha maneira de ajudar a menina?
Tenho que aceitar este tipo de desgraças, porque é neste mundo que elas existem e não vale a pena fingir que as pessoas são perfeitas...
No dia em que estavam a noticiar que a mãe tinha morto a Joana por 13 €, nós cá em casa estávamos a jantar.
- Que horror! (primeira reacção minha)
- Ai mãe, oxalá que a menina tenha sido é raptada...
- Ó filha ainda bem que tu me dás todo o dinheirinho que te dão!
E a minha filha desatou a rir...
É este tipo de piadas que, confunde as pessoas.
Então... mas eu ia deixar que a minha filha ficasse impressionada com a notícia?
Estávamos a jantar e não fizemos mal nenhum a ninguém...
Quantos miúdos não se interrogaram se algum dos pais era capaz de o matar por 13 €?
Os mais pequeninos se calhar perguntaram mesmo, mas quantos não se questionaram em silêncio?
As crianças temem os adultos, porque faz parte da educação meter-lhes medo, com a desculpa de terem de perder o medo...
Os adultos são terríveis, porque perdem a capacidade de brincar.
Vestem a capa da responsabilidade e esquecem-se que as crianças procuram compreender tudo o que os rodeia e mais grave ainda, esquecem-se que as crianças podem compreender tudo errado.
Se uma criança percebe mal as coisas, pode crescer já com algum trauma...
Quantos traumas já me passaram ao lado?
Bué...
Quantas pessoas conheço eu com traumas?
Bué...
Felizmente sempre usei a minha cabeça para pensar e o meu coração para sentir.
Tenho-me safado bem e tento transmitir isso à minha filha.
Ela sabe que sou imperfeita e não me exige a perfeição, mas diz-me que sou a melhor mãe do universo.
Hoje, estávamos nós a acabar de jantar e ela saiu-se com esta:
- Ó mãe, nós somos pobres, não somos?
- O que é para ti ser pobre, filha?
- Temos tão pouco dinheiro...
- Temos pouco dinheiro para gastar, mas vivemos numa casa, comemos todos os dias e um dia espero conseguir endireitar tudo isto. Já pensaste que existem tantas pessoas que não vivem numa casa, não têm amigos e nem um carinho recebem?
Ficou calada a pensar...
Já sei que vamos conversar muito sobre dinheiro nos próximos dias.
Se existem muitos pais que, não conseguem falar destes assuntos com os filhos, este não é o meu caso.
Seja que assunto for, vou tentar estar sempre disponível para falar do que ela bem entender...
É este o meu "papel", acompanhar o crescimento dela e incentivá-la a confiar no que ela sente, no que ela pensa por mais errado que me possa parecer, a mim.
Outra conversa já com uns dias:
- Ó mãe quando é que me começas a dar semanada?
- E para que queres tu semanada, filha? Gostavas de comprar alguma coisa?
- Então mãe podia comprar coisas como uma revista, um anel...
Já não me lembro do que lhe respondi na altura, mas acabámos a conversa a brincar...
Contei-lhe que a minha mãe sempre me deu dinheiro, mas era raro dar-me um beijo e um abraço era coisa que não existia.
Ao mesmo tempo abracei-me a ela e disse:
- Toma lá a semanada de beijinhos e quando quiseres alguma coisa, vemos o dinheiro que temos e compramos logo que pudermos.
Ela riu-se, tentando soltar-se dos meus braços...
Mas ando aqui atrofiada com isso.
Ando...
Gostava mesmo de lhe dar uma semanada para ela poder gerir, nem que fosse a comprar disparates (para mim, note-se!), mas não é possível...
Ela é muito parecida comigo, mas tem uma coisa que eu não tenho, é vaidosa.
Vaidosa no bom sentido. Gosta de brincos, anéis, pulseiras, revistas cor-de-rosa e coisas assim...
Para mim são tudo enfeites desnecessários e leitura atrofiante, mas para ela não é e eu não posso, nem quero desvalorizar o que é importante para ela.
Uma das vantagens de andar quase sempre a brincar com a puta da vida, é que assim, não preciso de comprar isto ou aquilo para me animar...
Amanhã vamos brincar as duas com a falta de dinheiro e se Deus quiser vai ser muito melhor que ir às compras e isso...
No fundo somos muito mais ricas que a maioria, porque temos amigos que não deixam que nos falte nada, mesmo que a mim me falte dinheiro.
Só eu sei o quanto fico feliz quando eles vêm cá a casa brincar connosco e só Deus sabe o que me custa serem eles a ir ao supermercado...
Quem sou eu?
Sei lá... sei que vivo rodeada de pessoas que me amam como eu sou, tal e qual como eu as amo a elas como elas são, o que é raro, muito raro!
Fica difícil chatearmo-nos uns com os outros, não é?
É por isso que eu evito as pessoas que não são verdadeiras, na mesma medida que elas me evitam a mim.
Graças a Deus! :)