sexta-feira, novembro 21, 2003

Tou triste...

Merda para esta merda!
Não gosto de me dar com pessoas que, só sabem "mandar abaixo" os outros.
"Nas costas dos outros vejo as minhas", nitídamente!
Não quero sequer conhecer as pessoas que, julgam e condenam a minha pessoa, baseada no simples facto de "terem ouvido em qualquer sítio" a opinião de outra pessoa qualquer.
"Vozes de burro não chegam aos céus", apenas fazem barulho!
Fico indiferente às tais pessoas que "mandam abaixo" os amigos, mas com vontade de avisar os "amigos" delas.
Mas, lembro-me logo do "quem te avisa teu amigo é" e que, "o amigo" não sou eu!
Tudo acaba por ser decisivo, quando é sentido...
Porquê é que me está a "dar para este lado"?
Pois... há várias explicações científicas... a chuva, o quarto minguante, a posição dos astros, a tristeza de Deus, a cor do próprio dia... tanta merda que, nos acontece e que aguentamos sem saber...
Aguentar, aguentar, aguentar... que estranha forma de viver!!!!
Eu até aguento, mas refilo... e refilo... e refilo... e refilarei!
Vou tendo os meus prazeres, os meus indispensáveis momentos comigo própria, os meus pensamentos rídiculos que me fazem sorrir, as minhas mágoas que me fazem chorar, os meus sonhos que gostava de viver, mas aprendi há muito uma coisa, simples: "Não deixo de viver o dia de hoje, só porque ontem foi bom (ou mau) e amanhã será melhor (ou pior)!
Nunca tive muito medo das "coisas". Aprendi a eliminar os medos sem os enfrentar. Aprendi a fazer o que sinto, mesmo que isso me fizesse sentir o formigueiro no estômago! Aprendi a não ter medo, não escondendo o medo!
Quando penso em mim, sinto um orgulho enorme, não por me sentir melhor ou pior que as outras pessoas todas, mas porque me sinto sem medo de estar triste ou de estar contente...
Já sofri tanto, já passei por tantas provas, já vivi com tantos medos que só me lembro duma pessoa que me "fez sofrer muito"... a minha falecida mãe...
Estou com saudades de "ter medo" que ela morresse! Que coisa estranha, não é?
Por volta dos meus 19 anos os médicos disseram-me que ela podia morrer a qualquer momento, fiquei com tanto medo de a perder... mesmo não nos dando bem, porque eu era demasiado sincera e esse era o medo dela... mesmo assim era a minha mãe...
Durante 20 anos aprendi a conviver com o tal medo "pode ser em qualquer momento". Tanta doença que se acumulou ao longo deste anos. Tantos internamentos. Tantos medos (ela de morrer e nós de que ela morresse "mesmo"), tantas angústias, tantas dores, tanto desespero, tanta impotência...
Morreu o ano passado... e eu não a perdi! Agora não tenho medo de a perder, ela partiu, mas está cá na mesma ou sou eu que estou lá com ela, tanto faz!
Ela era forte... a força vinha-lhe do medo que tinha de morrer! Faz sentido, isso fê-la viver 20 anos contrariando tudo e todos com o feitio dela, ela é que sabia, ela é que conhecia a vida, ela é que mandava... até os médicos ela contrariou!
O primeiro cardiologista dela (muito mais novo que ela, morreu 10 anos antes dela), os sucessivos médicos (neste País muda-se de médico porque o sistema mudou e lá nos mandam outro... e quantos médicos conheço eu?), todos a dizerem a mesma coisa e ela lá na dela... tenho medo, não vou... não vou... não vou!
Fizeste bem mãezinha, fizeste o que sentiste...
Por muito que me tenha custado muita coisa, por muita lágrima que chorei, fizeste o que sentiste e é isso que está certo...
Somos muito diferentes, tu lutaste por "possuir" a vida... e eu sempre lutei por me "entregar" à vida. Mas ambas sofremos, ambas vivemos medos, ambas reclamámos pelo que sentíamos!

SAUDADES DE TI MÃEZINHA
O amor que tu me deste não era o que eu gostava de ter tido...
As provas que querias do meu amor, nunca tas dei...
Mas ambas sabíamos que apesar de tudo, tudo era amor!
É pena que muita coisa tenha deixado de fazer sentido...
Preferia o medo, as correrias e todas as vezes que eu te tratei...
Tudo porque existias fisicamente e agora o vazio dá lugar à dor!

Contigo aprendi tudo o que não me ensinaste, mas que eu via...
Os teus medos ensinaram-me a não ser como tu, mas não sou melhor...
Sou apenas diferente na maneira de sentir as coisas e estar na vida!
Quando estou sensível, batem-me as saudades, eu não queria...
Mas não tenho medo de estar aqui a chorar, sei que não é pior...
Estou a amar-te, estou a recordar-te... tive que lidar com a tua partida!

Mãe, ajuda-me a conseguir "mostrar" isto a todas as pessoas...
Ensina-me como é que lhes explico que, não possuímos nada...
Que só possuímos a própria experiência de estarmos vivos!
Tanto que discutimos, tanto que nos rimos, éramos as duas boas...
Mesmo quando me querias poupar ao sofrimento, obrigada...
Mas viver não é mais que uma experiência em todos os sentidos!

Amo-te mãe!