Ora raciocinem lá comigo...
(Eu a falar com eu e eu; Eu superior, eu mental e eu emocional)
Porque é que existe tanta falta de amor?
Se nós viessemos cá para amar era para aprendermos a ser perfeitos e o ser humano assume-se como imperfeito, em todos os aspectos.
Um dos aspectos é abdicar de estar com quem ama a troco de dinheiro para alimentar os que ama.
Ou seja, no tempo de meus avós e do meu pai, os homens passavam o tempo fora de casa para poderem sustentar a família e o pouco tempo que passavam com a família (os que pressupostamente amavam) não praticavam actos ou gestos carinhosos. A melhor maneira de os homens mostrarem amor era assumirem uma família e sustentá-la...
Mas, todos precisam de amor...
Já no tempo das minhas avós e da minha mãe, as mulheres ou eram sérias e serviam para casar, ou eram galdérias.
(Este nome sempre me fascinou... galdéria é bonito, devia ser nome de flor, assim uma flor selvagem, ou isso!)
Mas, todos precisam de amor...
Por muitas voltas que eu dê aos sentimentos dos meus antepassados encontro sempre a mesma forma errada de demonstrar que os tinham.
O amor é uma "coisa" divertida e a maneira de se divertirem não era de todo, em família.
Os homens divertiam-se fora de casa e era assim os papéis deles. Sérios e austeros em casa e a rirem-se na rua, muitas vezes com outras mulheres, as galdérias, ou com os amigos e as histórias de arrepiar "deles".
Sentiam aqui o amor propriamente dito e o tal divertimento acontecia.
Ainda hoje é assim em muitas casas...
Já as mulheres sempre tiveram mais sorte, porque amor elas sempre sentiam.
Os maridos podiam ser uns chatos, mas os filhos dão-nos sempre amor, mais que não seja em pequeninos.
Bem, o grande erro das mulheres foi contudo, a forma de demonstrar o amor que sentiam pelos filhos.
Faziam de Deus o castigador e do pai o executor.
Assumiam as funções de educadoras, amando os filhos às escondidas, porque parte do papel delas, era precisamente ensinar conceitos, criar referências e assim tinham que representar o papel da má da fita e lá se ia o divertimento que poderia ter sido simplesmente amar os filhos.
Eu quando escolhi nascer em Portugal devia ter levado com uma estrela pela Luz abaixo!
Devia!...
Eu nunca me identifiquei com o Povo em geral.
Não consegui decorar tanta regra de comportamento e sempre achei melhor fazer o que me apetecia.
Acho que muitos de nós não se sentia amado em crianças, ou seja, sabíamos que nos amavam, porque nos alimentavam, vestiam, calçavam e nos ensinavam a serem homens e mulheres, mas atitudes de afecto eram poucas.
Eu quando descobri que a minha mãe não queria ter tido filhos, achei logo que era por isso que ela tentava ser rígida e que por causa disso ela não conseguia mostrar que me amava.
Aquilo para mim não chegava...
Na Escola também só ficava a saber o quanto gostavam de mim, quando fazia merda.
Enquanto eu andava por lá a mandar bocas, a baldar-me às aulas e a curtir sex, drugs and rock and roll, os meus amigos eram aqueles que andavam comigo nestas andanças, que como dizia a minha mãe, eram culpa do 25 de Abril.
As liberdades...
Ah pois! Eu ainda sou do tempo que mulher não usava calça.
Mulher não fumava.
Mulher não ia a café que era coisa dos homens.
Mulher conversava com mulher ou já existia ali alguma história.
Mulher que era mulher séria não dava conversa, porque a mãe geralmente era severa e o pai era carrasco.
Eu via isto quando era pequenina e felizmente vivi a minha adolescência nos finais dos anos 70, porque senão acho que tinha dado em galdéria, pois era!...
Acho que isto mostra bem o "panorama" do problema do Povo português e da falta de amor que existe.
- Falta de amor próprio, porque as crianças continuam a não ser amadas e a "cultivar" a auto-estima, porque ninguém fez isso com eles, os pais e coitados também não aprendem.
- Falta de amor pelo próximo, porque as crianças continuam a não saber demonstrar o que sentem, porque ninguém demonstra o que sente com afectos, muito menos os pais e também não aprendem.
- Falta de amor no geral, porque os adultos criaram padrões de demonstrações de afecto e essas são para ser cumpridas, esquecendo-se de simplesmente amarem e divertirem-se com isso.
Chamo a isto problemas de afectividade...
Por isso muitas pessoas sofrem do coração...
O facto de se demonstrar afecto mediante um padrão de comportamento limita a prática do acto e faz sofrer muito mais, porque é "às escondidas".
Coloca o amor numa posição de sacrifício e não de benção.
Também não são aquelas famílias que andam sempre aos abraços, mas nas costas falam mal uns dos outros que servem de exemplo...
Nem aquelas famílias que não passam de ilustres desconhecidos uns para os outros, mas que cumprem "religiosamente" os papéis que lhes foram distribuídos, que também servem como exemplo...
E muito menos aquelas famílias em que ambos os pais têm que trabalhar para ganhar dinheiro, para comprar coisas que mantenham os filhos entretidos, que servem como exemplo...
Os exemplos rodeiam-nos de uma forma absurda.
Os exemplos que eu vejo à minha volta podem não ser iguais aos que rodeiam as outras pessoas, mas eu, felizmente ou infelizmente, já nem sei, estou rodeada de muitos exemplos de formas erradas de demonstrações de afecto e o que me tem chamado a atenção para este facto, é precisamente existirem cada vez mais pessoas que sentem vontade de mudar isso e "desatam" a dizer que gostam, que gostam, que gostam muito de toda a gente.
Mas porque é que as pessoas têm tanta dificuldade com os sentimentos e com a afectividade?
Porque têm medo de serem magoadas e de magoar?
Mas... vivem magoadas com elas próprias, porque continuam a errar e a errar na demonstração dos mesmos.
Continuam a não saber amar e isso não deixa que outros os amem, mesmo os que amam na mesma.
Dá-me ideia que o xarope que tomaram em pequeninos, servia para lhes controlar a afectividade e nem em crescidos conseguem desenvolver essa parte deles, limitando-se a fazer como os pais faziam, brincando às escondidas para se divertirem, com a diferença que hoje em dia, já não são só eles, são elas também...
E foi assim que ainda não se conquistou a verdadeira liberdade do ser humano, amar e ser amado, sem regras ou restrições e poder demonstrá-lo sem condições ou imposições, e isso...
Pronto... fui bugiar! :)
domingo, maio 16, 2004
Todo e qualquer ser humano precisa de amor...
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