terça-feira, março 16, 2004

"Recordações"

Sabem onde é que eu conheci o Zé Pincel?
Trabalhamos juntos numa Editora de livros escolares!
Ele trabalhava na Livraria e eu, entre muitas tarefas que desempenhei (aprendi assim muitas profissões), trabalhei na secção de "ofertas de livros a professores".
Um trabalho giro e foi gratificante, porque coincidiu com a informatização da empresa.

Agora façam um esforço "imaginativo" e imaginem-se a entrarem às 9 h da manhã e terem à vossa espera uma fila de uns 40/50 Professores, perfeitamente disponíveis para receberem a "oferta" do livro escolar da disciplina que leccionam ou do grupo a que pertenciam.
Era eu sozinha e mal entrava já tinha "serviço" garantido até às 13 h.
Depois do almoço era a mesma coisa.
A visão da fila era a garantia de trabalho até às 19 h.
Isto antes das aulas começarem.
Está bem que isto foi em 1980 e poucos e 20 anos é muito tempo, mas não me venham com "tangas", porque se por um lado andava estafada, nunca deixei de desempenhar as minhas funções com competência e recusava dar livros de Matemática a Professores de Português, por exemplo.
Com o Zé Pincel a merda era a mesma, com a diferença de que as filas na Papelaria eram de pais e isso, a comprarem os livros e o material escolar.

Pois eu até sei o que é ter um trabalho estúpido em que, se passam dias e dias a fazer a mesma coisa.
No caso dos Funcionários das Finanças, andam dias e dias a separar os originais dos duplicados e a deitarem fora as instruções. As pessoas compram os impressos e mantêm-nos "religiosamente agarradinhos" como os vendem.
Depois, têm que conferir o(s) nº(s) de contribuinte(s), verificar se os originais estão iguais ao duplicados (uma das coisas mais estúpidas é não serem feitos com químicos ou "auto-copiativos" ou isso), fazerem uns riscos e uns traços, assinarem e meterem um carimbo.
Convenhamos que deve ser uma sensação estúpida à brava, saber que vai ser "este trabalho" o dia todo.
Ainda por cima, não foram aumentados nos últimos 2 anos.
Lidar com o público não é fácil.

Mas ter a sensação que as pessoas estão ali contrariadas não é agradável.
Não são agradáveis os comentários quer das pessoas contribuintes ou sujeitas passivas, quer dos funcionários.
Mas é o País e o sistema que temos.
Todos descontentes, mas confortavelmente acomodados a "dizer mal".
Tem piada!...

Ainda me lembro de serem os meus colegas a trazerem-me café, só para eu não deixar as pessoas ali à espera.
E ainda me lembro de ter manhãs em que o primeiro pensamento era: "Nunca mais é 6ª feira!".

Não é normal que andemos todos malucos? :)