domingo, maio 02, 2004

Dia da filha

Que eu sofro de depressão não é novidade para ninguém.
Não é de hoje, nem de ontem... tem anos.
Anos a mais.
Como sou (ou era) uma pessoa positiva por natureza, lá vou conseguindo dar "a volta" e consigo muitas vezes andar uns dias melhores, porque luto por ter paz, paz interior.
O sentido de humor (que sempre me caracterizou) ajuda-me a brincar com a minha própria doença.
Mas, nestas últimas semanas piorei.
Choro todos os dias.
Enervo-me fácilmente e grito como se estivesse a enlouquecer.
Sinto-me a enlouquecer...

Conhecer as origens da doença é importante.
Nestes últimos anos, sempre fui explicando à minha filha, porque choro, porque me enervo, porque grito.
Inclusivé, ensino-lhe truques para não dar importância, a muitos dos disparates que digo quando fico "possessa", porque sou daquele tipo de pessoas que, quando se enervam, levam tudo à frente.

Hoje, mal me levantei, fiquei logo cheia de nervos.
Uma mensagem no telemóvel e apeteceu-me logo partir o telemóvel todo.
Como é possível existirem pessoas tão insensíveis, tão egoístas? Pessoas que só pensam nelas e que são incapazes sequer de pensar no que uma mensagem pode magoar.
Devem ser doentes, também!
Quando entro na cozinha e vejo montes de cabelos no chão, pior fiquei...
Estou farta da casa, do trabalho e desta merda toda.
Chorei...

E fui-me meter no escritório, para despachar trabalho, de maneira a cumprir prazos.
Não demorou 2 horas e fiquei cheia de dores de cabeça.
Parei, tomei um comprimido e fui-me deitar a fazer Reiki na cabeça.
Levantei-me novamente, mas as lágrimas teimam em cair cada vez com mais frequência e a minha filha anda cada vez mais preocupada.
Um dos refúgios dela é passar horas aqui sentada e isso não é saudável.
Não posso permitir que isso aconteça, nem que seja só pelo motivo de não ter que me chatear.
Ela é a minha força, ela é a minha vida, ela é o meu Anjo da Guarda.

Sentei-me aqui e procurei na net a explicação da doença chamada "depressão".
A explicação, os sintomas, o tratamento e a prevenção.
Ela só tem 11 anos, mas fi-la ler para compreender porque é que eu ando assim, triste, nervosa e sem força para muita coisa.
Traduzimos o que estava escrito à realidade.
Analisámos as causas, as consequências e o porquê do meu "sofrimento".
Chorámos as duas e abracámo-nos.
Eu sei que tenho nela uma "aliada", mas isto só com conversa já não era suficiente.
Não a quero magoar, mas ela está demasiado próxima de mim e são as pessoas mais próximas que sofrem mais com este tipo de doença.

É mana, foste tu com o teu mail que me fez ver o buraco em que estou metida.
Mas não quero isso para mim!
Posso sentir-me no fundo do poço, mas não quero mais ninguém lá, nem quero lá ficar!
Obrigado do fundo do coração pelo teu amor incondicional e pelo teu apoio a todos os níveis.
Tens razão, o amor é para isso que serve, para nos tirar do poço e não para nos afundármos nele.
Eu posso não saber o que fazer à minha vida, mas sei amar... obrigado por me lembrares isso!

E, pronto... pelo menos estamos aqui as duas mais "leves" e mais "cheias de amor" uma pela outra!
Juntas... e mais unidas!
Eu não posso ter a mania que aguento tudo sòzinha, porque não aguento, mesmo!...
E com amor tudo se sonsegue...
Amo-te filha!
Amo-te mana!
Obrigada por existirem!