Cenário:
Maternidade de Oeiras. Vazia. Só eu para parir. Sala de partos. 6ª feira e as consultas a decorrer normalmente...
Participantes:
Eu, a enfermeira, a cozinheira e mais tarde o médico.
Depois de muito andar para fazer a dilatação, fui para o soro e do soro para a sala de partos. Estava tudo bem e a correr bem. Fiz tudo direitinho. No entanto, "ela" apesar de estar na posição de nascer, estava de lado.
Uma hora depois de ter a enfermeira entre as pernas e a cozinheira em cima da minha barriga a fazer força comigo, "ela" não queria nascer.
E lá chamaram o médico das consultas, interrompeu-as. Forcéps páqui, forcéps páculá, e lá ficou ele no meio das minhas pernas (eu estava naquela posição horrível que, nós gajas temos que ficar, com os joelhos pendurados confiantes de que nada temos a esconder) (ai que esta saiu linda!).
Elas, a enfermeira e a cozinheira vieram fazer força comigo, com as 4 mãos no meu estômago (até fiquei negra!).
Tinha um relógio enorme do lado esquerdo. Durante todo o tempo que estive na sala de partos contava os minutos e até reparava nos segundos. Eram 17 horas e "ela" nasceu!
Sem nome (porque eu dizia que só vendo a cara dela é que podia saber como ela se ia chamar) e colocaram-na em cima de mim.
Eu, de pernas abertas (que ainda não tinham acabado), triunfante (tinha conseguido!) com as lágrimas a correr de felicidade, olhei para ela e disse com a voz lamechas das mulheres que choram: "Tadinha... tem a cabeça do pai do Bart Simpson".
A enfermeira, um amor (o que ela me aturou!) cheia de paciência porque ia sair às 18 e ia de fim de semana para fora com o namorado (dá para falar de tudo mesmo quando se está a parir...) disse-me: "É dos forcéps, já fica normal".
Respirei fundo e disse: "tadinha... mas parece..." e levaram-ma...
"Ela" para a "primeira vez dela", pesada, medida, lavada e tudo isso...
Eu fiquei sózinha com o médico e o relógio...
A minha cabeça a dar voltas, voltas e mais voltas. Cheia de dores nos joelhos e nas ancas. Tudo em silêncio e o tic-tac do relógio. Do médico sabia dele porque lhe via a parte de cima da cabeça e sabia que ele me estava a "costurar". E, como não sou de ficar calada, perguntei: "são muitos pontos, Sr. Dr.?"
Ele, de lá do fundo, respondeu: "É melhor não saber, mas não se preocupe que é normal e vai ficar bonito".
Respirei fundo. Aquilo nunca mais acabava. Tentava não me mexer para não atrapalhar. Suspirei e disse: "Então Sr. Dr. para se ser Obstetra tem que se ter jeito para a costura..."
Ele, levanta a cabeça e olha para mim, estupefacto (foi a primeira vez que lhe vi a cara!) e desata a rir às gargalhadas!...
Até hoje ainda estou para perceber onde é que está a piada...
Uma meia hora depois, já tinha a minha filha comigo e ela mamou pela primeira vez. Não há palavras escritas para descrever mais nada...
Ele, o médico sempre que se cruzava comigo durante o fim de semana, dizia-me: "Vai ficar bonita porque eu tenho jeito para a costura..." e ria-se!
E pronto, espero que tenham gostado... porque EU ADOREI!...
segunda-feira, julho 21, 2003
No dia em que a minha filha nasceu...
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