domingo, setembro 14, 2003

"Porquê?"

Confesso que estou excitada.
Estou aqui sentada e "repleta" de emoções...
Sinto o momento, porque o pedi... e porque "ele" chegou!

"O primeiro Cavaleiro" a história de Lancelot irá explicar-me (porque é sempre depois de ler o que escrevo, que sinto paz) porque tanto tenho falado de "amor"!
Tenho andado confusa. Não tenho ficado "satisfeita" com o que escrevo. Embora, perceba o porquê...

De uma vez por todas, acho que devemos todos, e repito... todos devemos decidir a que lado pertencemos... somos bons ou somos maus?
Esta questão é simples... nós os humanos achamos que somos apenas, mais ou menos bons... achamos que temos um "lado bom" e sabemos que temos um "lado mau"! Mas, somos bons ou somos maus?

Sinto chegado o momento, as pessoas têem que decidir! Em todo e qualquer momento da História da Humanidade, assim foi e sempre assim será. Dum lado estão os bons do outro os maus. Não há meio termo!...

Camelot foi construída pelo bem, para servir os outros. O Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda, tinham o seguinte "juramento de fidelidade": "De irmão para irmão, teu na vida e na morte."
Pela justiça, pela bondade e pela verdade! Mas, também possuindo e construindo terras e cidades, ostentando riqueza e promovendo festas para animar o Povo.
Um deles, o Malagant, decidiu ser mau. Decidiu conquistar pela força o que o Rei Artur conquistava com "amor". Queria tudo o que o outro tinha mas, o que o motivava era o Poder.
Sentados à volta da Távola Redonda eram todos iguais, mesmo um deles sendo Rei. Tinham todos igual poder de decisão. "De irmão para irmão, teu na vida e na morte". (Isto arrepia-me...)
Malagant, o mau, decidiu atacar a Lady Guinevere, cujo pai tinha falecido e a quem ela tinha prometido casar com o Rei Artur, garantindo assim a segurança de Leonesse. Malagant queria Leonesse! Mais terras, mais poder...

Como é que só um mau (sim, porque a ideia é sempre de um só) conseguiu provocar tanto mal?
Conseguiu juntar muitos guerreiros e conseguiu saquear, matar e incendiar aldeias. Só para no final, poder dizer: "A Lei agora sou eu!"
O Rei Artur idealizou tudo a pensar no bem. A Lei era a decisão de vários bons (os tais Cavaleiros da Távola Redonda).
Conseguiu juntar muitos guerreiros para continuar a lutar pelo que acreditava. Em dada altura ele pergunta: "Quanto tempo precisas para conhecer a tua alma?"

Ai, ai... o que isto me "bateu" cá dentro! É tão simples... não é preciso tempo nenhum para cada um de nós saber se é "bom" ou é "mau"!
Não tenho dúvidas disto!
Quanto tempo precisamos para nos apercebermos que o medo está de tal maneira instalado à nossa volta, sempre presente e que por isso mesmo, hoje em pleno século XXI não há, aparentemente, bons e maus!
Somos surpreendidos com tanta informação que, "fulano" que pensávamos que era bom, afinal é mau! Vivemos a era dos "mais ou menos bons" e dos "mais ou menos maus"! Não é estranho?
Mas, e nós? Cada um de nós sabe, no mínimo, se quer ser bom ou se quer ser mau! É ou não é?
Eu sou boa, não precisei de "perder" tempo com isso. Tive a sorte de ter nascido assim, sem essa dúvida! Como Lancelot...

Lancelot que, perdeu os pais em criança, que sentiu a perda de "tudo ter perdido"... os pais, a casa, o amor e o carinho só porque outros quiseram possuir o que era deles, as terras! Que se tornou num viajante de florestas sem querer possuir nada, sem querer sentir nada, porque assim não "tinha nada a perder". Lutava com a espada para subsistir. Pelo divertimento e sem humilhar ninguém mas, ganhando todas as lutas. Porquê?
Ele explicou a um que ele derrotou: "...não te podes importar se vives ou morres!".
O que isto mexe comigo! A verdadeira liberdade!...
Quem tudo perde e permanece vivo é mais livre que quem tudo pensa que tem...
Lancelot, era dos bons, coração aberto, um dia perde tudo e podia ter optado por ser mau. Era ou não era? Mas, não! Tudo aquilo fez dele aquilo que ele era... livre! Sem medo de morrer... sem nada a perder... mas, bom!
Ia Lady Guinevere a caminho dos braços do Rei Artur, de quem já gostava (era uma pessoa boa e amigo do pai, ia protegê-la a ela e ao "Povo" dela), quando é atacada pelo Malagant e seus "capangas"...

Eram 3 "bruta-montes" e ele "aviou" 2... o 3º mata-o ela porque ele a tinha agarrado pelas costas! Esta cena do filme é daquelas partes que gozo que nem uma doida... e é a mais pura das verdades! Coisas que funcionam quando temos conhecimento da mentalidade do ser humano...
Jogo de palavras é a arma que ele entrega à Lady Guinevere (ele nem sabia quem ela era), um texto lindo e perfeitamente enquadrado! Os tais argumentos de quem se sente livre, sem medo e arriscando tudo pelo simples prazer de ter um desafio, naquele caso, salvá-la...

De homem para homem... os outros 2 "mortos, morridos, matados" (porque é que não dá pena sempre que um mau morre?)...
O MAU prende a BOA... por trás, pela garganta ficando assim protegido do BOM com ela à frente. Os 2 de frente para Lancelot (lindo!!!), ela com uma "armazita" na mão que o MAU de costas não vê, claro!... (lindo, lindo!!!!)
E com toda a calma ele inicia o diálogo, mantenham a BOA quieta e muda s.f.f. mas, com um ar assustado...
(Vou fazer uma brincadeira com diálogos mais actuais, já que não posso ser rigorosa do que eles realmente disseram, mas é fácil de traduzir para um texto que todos percebam)
Lancelot (com um sorriso tímido mas irónico) - Ó pá calma! Eu só queria comer a gaja...
Mau (com cara de parvo) - Jura!!!
Lancelot (olha para ela nos olhos e depois para a "armazita" assim abaixo do umbigo, que ela tinha na mão) - Olha para ela, é boa todos os dias, "tá à rasquinha" também...
Mau (de costas não vê um boi, só lhe sente o cheiro) - Mas, eu não posso... tenho que a levar ao Boss...
Lancelot (a olhar nos olhos dela e com a cabecinha de lado, não se esqueçam do ar de assustado dela tá?) - Vá lá estúpido, ninguém precisa saber... eu seguro ela pra ti e tu para mim... ela também quer!
Mau (todo a cair em tentação, já sem argumentos) - (A pensar... só porque o Lancelot fez uma pausa... mas a olhar o movimento dos olhos do Lancelot que a olhava nos olhos e no sítio da "armazita" dela que estava colocada mesmo no sítio do "motivo de conversa", pois...
Lancelot (nem o deixou falar) - Olha para ela estúpido e vê nos olhos dela o desejo que ser fodida por ti. Vira-a para ti...

Ai que emoção, que sensação e que bem representado todo "o jogo dos olhares" e que bem falado o "jogo das palavras"...
Pimba! Morreu! Ela não queria nada ser fodida pelo mau... pois! Usou a armazita... aquela para quem o bom tinha olhado...
Ele assobiou ao cavalo, assobiou-lhe a ela e lá partiram fugindo, para depois pararem... percebe-se bem que o tinham que fazer... primeiro acontece, depois fala-se... é ou não é?
Olhos nos olhos, ele diz que está cansado e ela percebe que ele não se cansa e diz: "Cansado? Tu combates até em sonhos...". Ele faz uma habilidade e dá-lhe água a beber da chuva com folhas. Ele diz-lhe que "já há muitos anos" vivia assim, livre na floresta. Ele beija-a. Ela disse-lhe quem é. Fala em recompensa. Conta do casamento. Falam de liberdade. Ela pede-lhe que ele prometa que nunca mais a beija. Ele diz: "Isso não prometo mas, prometo que nunca mais te beijo a não ser que me peças..."
Lindo!!! E ficam por ali...
Ele tinha parado porque estavam perto de uma estrada. Ela estava a salvo, ele foi para um lado e ela lá chega a Camelot!
Percebe-se que ela ama o Rei Artur e o Povo dela.
Percebe-se que o Rei Artur defende a verdade porque lhe diz: "Não precisas casar comigo (ele era amigo do pai, logo com idade para ser pai dela) só para protegeres Leonesse".
Ela prometeu ao pai, ela ama-o pela bondade e pela justiça dele, entregou-se a isso... deu a palavra dela!
"O amor tem muitos rostos", dizem no filme... e a vida prega-nos muitas partidas, digo eu...

O Lancelot já tinha "apanhado" a égua (linda como a Lady, pois...) que, iria ser oferecida à futura Rainha, e... sem nada ter a perder apareceu na festa promovida pelo Rei Artur, estilo festa de noivado daqueles tempos. Comida a ser distribuída, a malta toda contente (o Governo devia fazer festas para o Povo, volta e meia) e um jogo que nunca ninguém tinha conseguido acabar... só visto!!
Como a maioria já viu o filme, fechem os olhos e lembrem-se... da forma como ele consegue passar as bolas, as espadas, e todos aqueles instrumentos cortantes...
(Fez-me lembrar um jogo o "Prince", que há anos e anos jogava e tinha as guilhotinas que o pobre príncipe tinha que passar para salvar a princesa, bem giro!!!)
E, o prémio... um beijo da futura Rainha! E, mais uma vez o jogo dos olhares (à vista de todos) e o jogo das palavras (baixinho, entre dentes)...
Ele - Pede-me...
Ela - Não...
Ele - Só te dou se me pedires...
Ela - Nunca...
Ele ajoelha um joelho e beija-lhe a mão... a mão de Rainha! O Povo num misto de espanto, euforia mas, todos a curtir! O Rei Artur leva-o e tenta perceber...
Conforme vai sabendo da história, diz-lhe: "Quem nada tem, nada ama. Se nada amas que alegria tem a tua vida?".
Lacelot deve ter ficado a pensar naquilo, tanto mais que estava no cimo duma muralha a olhar o mar quando viu a Rainha ser raptada... e claro, lá vai ele salvá-la... para além de ele ser livre, destemido, gostar de desafios, tinha que salvar a mulher que amava, bem... das mãos do mau tinha concerteza!!
Assim disse, assim o fez... salvou-a!
O Rei Artur quer nomeá-lo Cavaleiro. (O lugar "vazio" deixado pelo mau, o Malagant). Todos reunidos para decidir.
Antes, porém ela defendeu a natureza dele e disse: "Admiramo-lo pelo que ele é e não pelo que faríamos dele..." (É horrível estar sempre a ser tentada com o fruto proíbido por perto, né?)
Lancelot aceita porque tem motivos muito fortes...
Ama o Rei Artur: "Ele viu o que de melhor há em mim..."
Ama a Rainha... mal a viu, sem saber quem ela era, sem nenhum deles ter escolhido... mas foi recíproco... aconteceu... pois!
"De irmão para irmão. Teu na vida e na morte."
O Rei Artur até lhe disse quando ele trouxe a Rainha sã e salva: "Não há maior prova de amor que arriscar a vida pelos outros."

Bem, estavam os Cavaleiros a "jurar" fidelidade e isso à Rainha, quando são atacados pelo mau, claro! Apesar de os terem vencido, Lancelot, decide partir...
Não é fácil lutar pela Rainha... pelo Rei, por Camelot e tal... pois!
Despedem-se... aceitando o "destino" de não se poderem amar... olhos nos olhos... e ela pede-lhe para a beijar... a última vez... com todo o amor sentido e reprimido... aceitando ambos a separação... para sempre!...
Eis que entra o Rei Artur! Nada diz...
(Lembrem-se dos olhares... ou reparem quando voltarem a ver o filme)

O Rei Artur sozinho, pergunta-se: "Porquê?"
Fala com ela (a Rainha ama-o e respeita-o) e diz-lhe:
"Olha para mim como olhastes para ele, eu vi-te a olhar para ele",
"Já não sei que pensar, nem sentir..."
Fala com ele (Sir Lancelot também o ama e também o respeita) e diz-lhe:
"Só os tolos sonham com o que não podemos ter...",
"Traíste-me, a Lei julgar-te-á, não me vou esconder de vergonha, o Povo saberá a verdade"
Pois, e enquanto o Povo se prepara para assistir a tudo isto... o "preço" da "traição" é a morte... Sir Lancelot diz: "De irmão para irmão. Teu na vida e na morte."

E, não é que a "maldade" sempre se aproveita destas situações? Pois o mau, Malagant, aproveitou e atacou... apanhou-os a todos desprevenidos... sem armas... só porque estavam a usar a "Lei" e a assistir a um "julgamento público"!
O mau na maior... O Rei Artur, antes orgulhoso, ali humilhado... pela traição da Rainha e do Sir Lancelot... tinha que se ajoelhar perante o mau, reconhecê-lo como "Líder", como conquistador de Camelot, a cidade do bem... com o outro (Malagant, filho da puta) a dizer-lhe: "Os fortes governam os fracos! Ajoelha-te!"
Então, Rei Artur diz: "Já não tenho réstia de orgulho em mim, mas faço-o pelo povo...", e grita: "Lutem, lutem, lutem por Camelot..." e isso, pois!

O bem venceu o mal. Lancelot matou o mau.
(Sempre que se mata o líder mau, todos se piram, porquê?)
(Em compensação sempre que o líder bom morre, alguém continua a acreditar, porquê?)
Rei Artur morreu amando a Rainha, que afirmou que "a vontade é mais forte que o coração", porque mesmo quando começou a amar Lancelot, não deixou de amar o Rei.
Rei Artur morreu amando Sir Lancelot, que amou a causa, deixando-lhe a espada dizendo: "O meu mais fiel primeiro Cavaleiro", que coitado também não fez de propósito quando começou a amar a Rainha, que ainda não era Rainha e isso... pois!
Rei Artur morreu e deixou cá tudo... viu o raiar da aurora, não antes de aprender, aceitar e compreender que "o amor tem muitos rostos"!

Morrer é renascer... o amor fica, o amor vai, o amor está sempre presente...
Por amor se mata e por amor se morre...
Porquê?
O porquê não interessa para nada...
A Márcia e eu temos aquela coisa de "Irmã para irmã. Tua na vida e na morte." e se fossemos a pensar no "porquê?" se calhar chegávamos à conclusão que já fomos Cavaleiros da Távola Redonda, ou isso...
E então o Pedro? O Pedro é o nosso "Primeiro Cavaleiro", sem dúvida alguma... já foi Shakespeare noutra vida... só pode!
É como diz este Ministro naquela citação: "Amar-se a si próprio é o inicio de uma longa história de amor." (Lei de Wilde)

"Queres ser dos maus ou dos bons?"
Só tens que decidir se leste isto tudo, claro!... :)
(Eu acabei calma e aliviada...)
Beijos